segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O grito

Eu sinto o silêncio perfurando os meus tímpanos,
Não o que nos brinda a paz, mas o silêncio da profunda solidão.
Um ano inteiro, trezentos e sessenta e cinco dias desperdiçados;
Despedaçados como o lençol branco esparramado sobre a cama desarrumada.

O nosso calar é traiçoeiro, algo está nos matando quando nos omitimos.
Índigos maculados de cinza sob o céu negro.
Rostos novos, inchados por chorar. Enrugados por se preocupar.
Sorrisos amarelos. Atores natos.

Eu gritarei no coração da cidade, sob a rosa dos ventos.
A voz a ecoar nas ladeiras, escadarias, sob as mãos e olhos de estátuas,
Nos alambiques, hotéis, restaurantes e puteiros.
Sobre os arranha-céus, derrubando aviões, pairando em estações.

Sou o Zeppelin sem honra, sou o amor que se recusa a morrer.
Sou a virtude e a fidelidade, sou o ódio e o desejo. Sou o beijo.
Vejo o relógio apontar horas tardias, vejo a manhã nascer.
Eu vejo um futuro conturbado, como uma pedra atirada num lago.

A euforia, a agonia, a desavença, as juras de morte, a sorte.
Ainda que pra isso sobreviva apenas entre nós o mais forte.
Força ou loucura, coragem ou estupidez, que seja.
É necessário viver um mundo paralelo pra se sentar à nossa mesa.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tive uma overdose de você

Tive uma overdose do você.
Com nossas músicas, com nossas fotos, cartas, textos e coisas.
Preciso me reabilitar.
Só não quero.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sandman

Eu tenho o mundo a frente e tudo o que consigo fazer é pensar em ti. Então fecho os olhos, abraçando a escuridão, e é teu sorriso que atravessa o vazio como um raio de luz. Eu a absorvo. Eu aproveito tudo o que você tem a me dar, retribuindo. Logo depois eu me torno vazio. Um velho jovem, tolo e vazio. E há quem diga que o amor não pode morrer. Pois eles estão errados.
Então espero como uma criança espera pelo doce, como o doente espera a cura, como o viciado espera a droga. O tempo passa mais devagar neste reino, mas eu me sento nas areias e espero. Depois então avanço. Saio de meu castelo negro, deixo que minha imaginação cesse por dois segundos e recomeço. O recomeço parece uma cura, o recomeço sempre dá no mesmo final.
E o fim é inevitável. Ele vem, como a morte ou desespero, talvez como desejo ou sonho. Mas vem. Retirando-me dessa infinidade de podridão e sujeira que este mundo mortal oferece. Sugando-me para fora da consciência mundana, me fazendo ser minúsculo e grandioso de uma só vez. Eu sou o grande mestre do nada, este é o meu reino grandioso do imenso invisível, e aqui me casarei com a maior mortal que eu puder encontrar.
Eu ergo as minhas paredes com o barro do silêncio e as pedras da saudade, as janelas eu faço com o reflexo das memórias e as telhas eu forjo feitas de coragem. Inabalável. As portas eu faço com minha solidão, sendo intransponíveis. Muralhas de teimosia. Na fachada e na varanda eu ponho um tanto de minha vaidade, meu castelo não é tão belo quanto pensas. Há duas torres: Amor e ódio, ambas tem a mesma altura, a da direita pode-se ver a luz de uma vela acesa na janela. A frente existe uma ponte, a ponte do esquecimento, ao redor da muralha há um lago, o lago da ganância. E nos jardins do medo existe a fonte do desejo. Antes, ainda em meus domínios, existe o labirinto da vergonha. Onde os homens se perdem por natureza. Não deixando nada sair. Todas as noites, há um velho sentado no telhado a tocar melodias suaves em sua flauta a luz do luar. É meu espírito, ele se recusa a partir ao amanhecer, cedendo após muita batalha.
Esse é o reino que construí para mim. O reino vazio, o reino do nada. O reino dos sonhos. Se você olhar bem, não verá absolutamente nada. Talvez veja tudo. Mas verá algo. Isso depende de seu espírito, de sua consciência. Não sejas louco de entrar em meu reino, não sairás. Esse é meu recado para ti. Deixo-te as chaves para a porta, o mapa do labirinto, e a senha da torre esquerda. Mon Petit... Mon cherry...

Mon amour.

Ver o céu.

Eu tentei ser normal como todos vocês por um período de quase um ano,
Mas depois de um tempo me senti como um cão sem dono.
Amordaçado e frustrado, preso em baixo da chuva.

Por menos poético e mais dramático que pareça, é verdade.
E o que você tem haver com isso?
É como se minha alma estivesse em estado de calamidade.

Cores, cores, cores... Um infinito universo multicolorido
Um turbilhão de acordes e gritos aos montes.
É de música que estou falando.
O universo caindo sobre minha cabeça e a música trazendo paz.

Ficar em casa me deprime. Então saio e busco companhia.
Mas quando eu os vejo, estão todos afundados neste sistema.
E o mundo sobre mim ganha mais peso a cada dia.

Vá pintar, escrever, ou saia ao léu.
Tinha tanto tempo que não via o céu,
Que quando olhei senti vertigem.

sábado, 23 de outubro de 2010

A realidade de um lunático

Tinha um pedaço de açúcar no meu lábio.
E eu cancelei a ligação antes do primeiro toque.
A realidade parece um vórtice agora.
E cada dia passa eu vou ficando mais louco.
Minha mão esquerda já não fecha com toda a força.
E tem um caroço no meu dedo-médio.
Eu não vou ligar pra você. Você não merece.
Mas eu ligo por que desejo tanto.
E eu não sonho. Não tenho mais sonhos. Não recebo mais avisos.
Agora minha mente divaga quando uma partícula de poeira passa.
E eu escrevo tanta besteira. Desenho tanta coisa tosca.
E dizem que é arte. Arte é o que eu faço pra conviver com meus pais.
Arte é quando eu me arrepio todo quando piso no palco.
Pouco me importa o teu sorriso. Tenho que cuidar do meu
E não espero tanto que passes por mim,
Deixo os idiotas a corteja-la sabendo que eles não têm chances.
Escrevo este monótono texto para dizer-te
Que a tristeza já não seduz as minhas lágrimas.
E as belas coisas ainda tiram o meu fôlego.
Eu não faço sentido, eu não tenho manual.
Eu apenas existo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu eu mesmo e a areia. (Quão original)

Estavam sentados os dois em um pequeno muro cheio de areia, olhando para o mar, com o sol nas suas costas fazendo sombras por culpa dos coqueiros. A areia era branca, a brisa era fresca, o mar parecia um reflexo se quebrando do céu azul acima. O horizonte parecia interminável, intocável.
-Não dá pra ser um cara bom e equilibrado. As pessoas vão mentir pra você, vão te usar, vão te trair. Vão fazer o que querem mais e mais vezes, e quando você perder a sua serventia, já haverá outro, igual ou melhor que você, pronto para ser usado. Se quiser continuar tentando ser santo, vai morrer sozinho.
-Eu não penso assim.
-Nunca pensa. Age por impulso, sempre pondo o coração sobre todas as coisas.
-Não sou mais assim.
-Não, não é. Talvez não seja. Mas se tornou tão racional que mal pensa. Tão frio que não há mais ninguém pra falar. Passou mais de seis meses de sua vida em silêncio. Sem companhia, sem amigos, sem desabafar todos os golpes que recebia.
-Foi melhor assim.
-Mesmo? Quantas lágrimas derramou?
-Nenhuma.
-E isso lhe fez bem? Como se sente por dentro?
-Sem alegria. Sem tristeza.
-A quanto tempo não ouvia música?
-Muito tempo.
-Deixou de ser humano. Uma hora terás de magoar ou amar alguém, pra não continuar secando por dentro.
-Eu não preciso amar alguém pra ser humano.
-O ser humano não consegue viver sozinho, ele definha e morre. Você precisa de contato, de algo pra se agarrar, pra te fazer pensar, deduzir cada movimento, um desafio pra sua cabeça e coração. Uma pessoa a sua altura.
-Ele põe a mão na cabeça sentindo os seus cabelos crespos -
-Eu não preciso de ninguém pra me derrubar, pra me deixar abaixo do chão. Eu não preciso de nada me marcando, arrancando pedaços. Eu não quero tentar todos os dias achar um lar onde eu possa ficar seguro, pois este lugar não existe! –uma lágrima cai, molhando sua camisa- Eu não quero mais ter que ligar pra ninguém pedindo qualquer arrego, ou uma palavra de esperança! Eu posso muito bem ficar sozinho, tantos de vocês já me deixaram! Depois que as pessoas acharam a companhia que precisavam, eu deixei de ter serventia! Por que não me deixa sozinho? Eu não servirei pra você amanhã ou depois, quando achares coisa melhor... Por que não vai embora também?
-Por que eu sou parte de você, Allan. E uma hora alguém aparecerá, e eu deixarei de ter serventia. – Pôs o seu braço direito sobre o ombro dele- Eu não posso deixá-lo sozinho. Nunca.
-Allan enxuga as lágrimas, e olha ao lado, não vendo nada.
– Talvez eu nunca esteja.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma poesia para as paredes.

A névoa fina do saudosismo de um homem apegado aos detalhes,
A lembrança de uma senhora que nunca existiu.
Personagens nascidos das composições de Vivaldi
Wagner, Mozart, Tchaikovsky e Bach.

Tardes calorentas e tecidos negros
Piso de madeira e vozes a ecoar.
Era o futuro, era o acaso
Era o desejo e a vontade a brotar.

Uma voz rouca sussurra no telefone.
A sequencia de erros se depositará no maior acerto a se notar.
Achei um cabelo teu. Recuso-me a acreditar.
É poesia em demasia, o cúmulo da fantasia.

Na noite dois caminhos se fazem necessários.
Quatro cajadadas e o mesmo coelho. O troféu é pequeno, mal se pode enxergar.
O espetáculo termina: As cortinas se fecham e se ouve os aplausos.
Onde há mente há também um coração a morar?

domingo, 26 de setembro de 2010

metamorfose

Ele olhou para o céu nublado e viu as gotas caindo em direção a terra. O vento balançando os galhos das árvores, as folhas voando aleatoriamente, um adeus antigo de quem mata um grande amor. De onde via, as coisas pareciam pequenas e insignificantes. Os problemas pareciam agora, pequenos alfinetes e em seu dedo havia uma pequeno filete de sangue.
O pelo da nuca se arrepiou com a primeira gota que caíra, parecia que Deus resolveu chorar. Um jornal no chão começou a ser encharcado. Cada gota parecia uma bala. Se lembra dos antigos sonhos e companhias. Coisas que tinha e queria. Agora estava tudo fora do que era considerado real. E todo senso de físico e psicológico fora misturado e destilado. Várias vezes.
Ele se levantou da beira da montanha. Viu as cidade, viu as luzes, sentiu saudades. Levantou a gola de seu casaco e começou a andar. O vento empurrando seu corpo, as folhas se chocando contra sua roupa., seu cabelo esvoaçado, o cheiro da floresta que o cercava. Ele pensou em dizer. Ele pensou em dizer a todos o que acontecera. Mas pra que? Pra que dizer a alguém que ele havia mudado?
Eu me despeço do que sobrou do que era Walter Signun, e abraço o meu futuro. Ele foi fraco o suficiente para se deixar julgar, quanto a mim, que eles descubram.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fillosofia de um enforcado.

Então vejo aqueles que foram.
Pedaços do que fomos nós.
Aquele garoto na parede e as lágrimas,
Cortinas, laços e nós.

O que mudou foi muito e pouco,
Aqueles que mudam são estranhos e sós,
Os errados, os condenados.
Sonhos são pros sonhadores e loucos.

Verdade é confiança.
Confiança é lealdade.
Lealdade: O caminho pra amizade.
Amizade.

Aos bastardos, injustos.
Déspotas decadentes.
O que eu poderia dizer a vós?
“Que vivam para sempre.”

domingo, 5 de setembro de 2010

Mais uma sobre asas

Eu fui criado por um homem frio e sensato.
E tomei boa parte disso pra mim.
Então me dizem sobre auras negras.
Eu digo sobre o calor que esquenta meu braço.
E eu nunca errei, em relação às previsões,
Eu tive muito amor, agora tenho...
Poucas as minhas frustrações.
Por que Deus não me deu asas?
Então Sirvo de apoio pra alguém,
Mas eu não tenho bases sustentáveis.
Sou humano e vivo.
Como qualquer outro.
Tem uma estrada que leva em lugar algum,
Mas se aventure, não fique em casa.
Eu posso guia-la.
Fui teus lábios e teus ouvidos,
Fui teus olhos, senti sua respiração.
Fui teu amigo, teu coração.

domingo, 29 de agosto de 2010

Lei da natureza

Eu sou parte de uma explosão, e então me junto à humanidade.
E sirvo a um ser superior que eu não conheço.
Enquanto meus pais me compram coisas que não preciso.
E me junto a seres que não correspondem a minha identidade.

E você não consegue ver, não pode arriscar sua individualidade pelo bem comum.
E se acha superior por que tem um pouco mais que alguns de nós,
Mas é inseguro e fraco, pequeno e medroso.
E vive atrás de aceitação e amor.

Então acordo todos os dias perdendo amigos, por que me mantenho na sinceridade.
Caminho num mundo insensato e mesquinho.
Nisso você mostra que tem companhia enquanto tem dinheiro,
E chora por sentir-se vazio quando chega em casa.

Eu sou o herdeiro de inutilidades e de valores que nada tem a ver comigo,
E a vida se resume em que um tem de ser melhor que o outro.
E eu sei, não importa o que digam:
Eu não sou igual a você. Que viva o mais forte.
É a lei da natureza.

domingo, 15 de agosto de 2010

Imagine

Imagine como eu seria se eu não houvesse encontrado em ti o meu equilíbrio.
A loucura que faria se em ti não achasse minha paz.
O tempo que eu passei sozinho na espera de você.
O quanto os seus olhos me desequilibram penetrando meu vazio.


Imagine o quão profundo são seus abraços
Que na maioria das vezes minha lágrima é um sorriso.
A falta que eu senti quando você se foi,
Apesar de te ver quase todo dia.


Imagine o seu sorriso me tira e põe de volta a realidade,
Que volta e meia minhas mãos voltam a tremer.
Que brincando eu me perdi na carne,
Eu me afogo na tinta toda tarde.


Imagine que faz uns meses que não tenho com ninguém, não necessito.
E que o diálogo foi sufocado pelo tempo.
Pouca falta sinto de tanta coisa.
Mas chega de romantismo barato.

domingo, 25 de julho de 2010

Um dia eu voltarei

Bem, não estou muito bem,
Quando discuto com as paredes.
Não desenho, não escrevo melhor;
Eu preciso ir andar.

Não sei exatamente o que estou arquitetando
Mas necessariamente, você não estará.
Seu roteiro, eu atuando.

Me tornei egoísta.
Porém, não precisa mais de mim.

Dou a mim as asas que eu havia negado.
As feridas já estão a se fechar.
Muitos rabiscos, poucas fotografias.
As lembranças poderão ficar.

Sou egoísta.
Você não precisa mais de mim.

Eu não estou te deixando,
Eu apenas preciso ir.
Um dia eu voltarei,
E tudo será como antes.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

04:36

Precisava ir a um lugar onde não pudesse te ver, mas você estava lá.
Tentei te contar mil coisas mas,eu não sabia como.
Eu sei é culpa minha. Já deviamos ter resolvido isso.

Separei aquele filme e já fiz as pipocas como tanto queria.
Mas a sala ainda está vazia. (Então verei sozinho?)
Estive ouvindo aquela música que adora. Sabe... Eu continuo Rock'n Roll.
É, eu sou o mesmo de antes.

Ah, eu roubei aquela sua foto.(Nem eu imaginava te falar isso)
E continuo achando você a mais linda.
Eu sei que eu não costumo falar.
É por que as vezes, estou com minha mente em outro lugar.

Me peguei sonhando com você de novo,
Não que você viva em minha cabeça, mas...
Eu gosto quando resolove me visitar.
Vou desligar agora, meu crédito acabou.
Te amo.

sábado, 10 de julho de 2010

Sem título III

Quando acordar amanhã procurando as flores e o teu café,
Perceberá que eu não era dependente assim.
E que sua imprudência e inconsequência,
São as raízes do teu pecado.

Quando souber que eu não ando mais por aí sem eira nem beira,
Verás que foi você que ainda não cresceu.
Que esse desejo insaciável, sua fúria incontrolável,
Lhe fez perder um amigo pra vida inteira.

Quando cansar desta aventura rotineira
Criará consciência que o amor lhe faz falta,
A porta não estará mais aberta.
Ela esteve por tempo demais.

Talvez eu não devesse ficar,
Talvez você devesse ir.
As vezes tentamos fazer o errado dar certo.
Mas o que é o certo e o que é o errado?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Insetos gostam de luz

Vejo o seu rosto nas praças e avenidas,
Tenho aberto todos os dias as velhas feridas.
O teu cheiro, um abraço, tua fala.
A tua presença que me cala.

O futuro numa estrada de ferro até um abismo.
Sozinho com os pecados e saudades nesse caminho
Deixei de te procurar em outras apaixonadas.
Quem iria querer pular no precipício de mãos dadas?

Rompendo laços, pessoas que sugam forças.
Que querem sair do poço da futilidade e ódio,
Se agarrando a qualquer esperança de amor
Afinal, insetos gostam de luz, ou um iluminador.

Pagando caro por um último adeus,
Desejando poder estar lá novamente com seus amores.
Mas quando se consegue alcançar o que já aconteceu,
Descobre-se que o passado é uma imensidão de horrores.

sábado, 26 de junho de 2010

Poesia urbana

A fúria dos novos dias
Invade os meus sentidos.
Não há medo ou espanto
Só estranho, não sinto nada.

Olhos antes ocultos,
Amigos que já não tenho.
A brutalidade do silêncio,
No tique-taque e nos agudos.

Ouço a faixa, não sei o nome.
Estou no jogo, não sei o esquema.
O panorama, o teorema.
Sua poesia, veneno puro.

Sinto a noite, fumaça e carros
Aperto o passo, sereno e vento.
Sinto a vertigem, o meu momento.
Concreto frio. Mentira e tempo.

sábado, 15 de maio de 2010

"Minha atividade de escritor tratava de ti, nela eu apenas me queixava daquilo que não podia me queixar junto ao teu peito."
Franz Kafka, em 1919



sábado, 27 de março de 2010

Mogno e Marfim

Quando morrer quero que me enterrem
Com o meu cajado e minha coroa de ossos,
Com meu amor e com os meus vícios,
Os meus defeitos, as minhas virtudes.

Pois quero em vida tudo o que querem me dar em morte,
Pois quero em vida,quebrar o limite do limite do limite,
Porque eu quero em vida, tudo o desejo da carne saciada.

Pois eu caí do paraíso, e aqui não há coros ou nuvens,
Não mandaram, não vieram, anjos pra me resgatar.
Na minha vida exarcebada onde só há verdade em minha boca.
Do suspiro, do retiro, que eu pretendo dar.

Quando por fim resolverem que devo partir, saiba que foi por amor.
Quando meus pés não tocarem o chão, o motivo foi justo.
Tenho a minha espada e meu candelabro,
Tenho a minha taça, e minha fonte de luz.

sábado, 6 de março de 2010

A ladra de lágrimas

No ponto mais alto do planeta, no lugar onde as trevas jamais tocariam a luz, é a moradia da mulher que colecionava lágrimas. Entre um céu azul e nuvens brancas como papel, está o templo da feiticeira. Cheirando a incenso, ervas, plantas medicinais e alguns tons indescritíveis, com umas músicas delirantes, que mistura um pouco de indianismo, cultura africana e indígena sul-africana. É lá que ela guarda, em uma sala maravilhosamente esculpida, o produto de séculos de trabalho árduo.

Durante a noite, ela vai a terra e se mistura aos mortais para obter a melhor gota de água e sal, que ela procura a anos e nunca conseguiu encontrar. A mais bela, a mais brilhante, um fruto da tristeza de um grande amor, do mais puro coração humano. A lágrima do sétimo filho do sétimo filho. E foi numa dessas viagens por várias terras, onde ela colhia um pouco da tristeza de cada ser humano e também da alegria, que ela encontrou o homem que lhe daria a melhor e mais pura lágrima que precisava. Mas, por infelicidade do acaso, a feiticeira acabou por se apaixonar pelo escolhido. E eles se entregaram durante um mês inteiro, a um amor sem limites, onde um acabou se abraçando a paixão do outro, em uma felicidade plena. E o escolhido havia perdido completamente a noção de quem ela era, e ela havia esquecido qual a verdadeira razão de estar ao lado dele. Até que ela acordou para o que realmente deveria ser feito.

Acabou por tentar feri-lo com a espada, mas ele sabia o que ela queria e não chorou. E ela tentou matar todos os animais de sua fazenda, mas ele não chorou. Ela ameaçou tirar a vida dele, mas ainda assim ele não chorou. Ele a amava profundamente. Mas então ela disse a ele palavras horríveis, que desta vez feriu não só ao corpo dele, mas a alma, a mente, o sentimento. E ele chorou. E quando ficou sozinho, tirou a própria vida manchando com sangue, o recipiente das lágrimas.

Indo embora, a feiticeira encontrou uma das suas irmãs do destino em seu templo, que lendo a mão dela, disse algo que deixou a maga perplexa. Ela poderia ter conseguindo essa lágrima em momentos de felicidade, em uma prova de amor, ou até mesmo no cansaço e no sono. E ela seria feliz para todo o sempre. Mas agora, ela estava destinada a vagar a eternidade, com sua solidão e uma lágrima vermelha encravada no meio de sua testa, para lhe avisar com a clarividência quando seu amado voltaria a terra. E as outras lágrimas caíram por terra, e se tornou o mar, em sinal de amor ao sétimo filho do sétimo filho.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Filhos do sol

Em quanto você jura viver a vida como uma louca,
Em quanto dizem ser muito mais do que coisa pouca,
Eu vejo os prédios caírem com os filhos do sol.
Eu vejo os filhos dos filhos, os filhos do sol.

E meu corpo se arrepia, e minha alma rodopia
Agora sim podemos em fim viver!
Vejo as portas, as grades e me sinto tão mal
Que quase posso vomitar.

Então quando me retiro para meu refúgio numa ilha,
Que volto evoluído, elevado, meu corpo queimado
Tenha certeza que foram os filhos do sol.
Os filhos, filhas e irmãos do sol.

Não mudo tão fácil, sou muito igual.
Não mudo tão fácil, eu sou um filho do sol.
Não diga que eu sou um homem comum.
Eu sou e serei, um pai, um filho, e um irmão
Do sol.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Guerreiro cansado II

Algumas coisas irão acontecer por que devem acontecer,
Outras irão ser feitas acontecer, pois não acontecem sozinhas.
Um rei poderá mover o homem para a fúria da guerra,
Mas somente o homem pode se tornar um guerreiro que encontra a glória.
Mesmo em uma batalha que não seja a sua.

Sabe que não deve cortejar a ambição,
E que em campo deverá ser frio, calculista e insano.
Sabe que aqueles que amam demais perdem tudo,
E que a confiança nos homens é o mesmo que uma taça de cicuta.

Aprende desde cedo que toda experiência vem da perda,
E se pergunta se seria a vida ou a morte uma doce ilusão,
Pois encara as cicatrizes com uma reverência a memória,
Uma súplica no escuro aos campos alísios, onde os ventos sopram sempre para o oeste.
Onde não há dor, e os ventos sopram sempre para o oeste...

Um guerreiro sabe que o que é estranho não vem dos homens,
Pois, mesmo com todo o misticismo ele só vê brutalidade.
Que o sangue que jorra pelo fio da espada é de um outro homem honrado.
O sangue que jorra da ferida talhada é de um homem que deve ser respeitado.

O homem que volta da batalha liderando seus exércitos é apenas um homem.
Um homem que em casa não encontra seu amor sabe que a solidão é seu pior fruto.
É o guerreiro respeitado pelos seus semelhantes, e apenas afia a sua espada.
Sabe que vai pra uma outra batalha, que lhe trará a morte ou mais sofrimento.
Sabe que no fim ele luta por nada. Sem amor, sem paz, sem coragem, sem esperança.

Honra e Glória.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Saint's

Saint’s

Ele é um homem, que é constantemente julgado.
Ninguém nunca o vê maltratar alguém.
E quando vê, é por que está ameaçado.
Ele nunca havia destilado ironia...
Até ser profundamente provocado.

Andou reformulando seus ideais, e se tornou um ser estranho.
Tem sido um pouco seco. Um tanto quanto estúpido.
E nunca mais jurou proteger, todos aqueles que amava.
E ele jurou não procurar saber, como o mundo estava.
Se arrependeu de ter tentado, e tem afundado.

Deixou de acreditar na humanidade, deixou de andar pela cidade.
O seu refúgio era o céu o mar. E provocar os risos de felicidade.
Sua terapia diária e intensiva. Que se tornou exaustiva.
Se cansou de hipocrisia, se cansou de anistia. Prometeu não perdoar.
Ele não enxergava mais as pessoas com outros olhos. Ele já não sabia amar.

E ele nunca deixou de ajudar, a quem precisasse.
E mesmo sendo ácido e sarcástico, tinha um tom eclesiástico.
Ele haveria de morrer um dia, seja pelo tempo ou por mãos inimigas.
Ele haveria de parar de avisar. De mostrar a quem amara um dia,
O que não se deve confiar. Nunca se deve confiar.

E hoje ele será caçado pelos religiosos,
Por ser um bom homem e nunca ter contado o segredo.
O sol e a lua irão se tocar, e o mundo cairá em medo.
Enquanto o seu nome é devidamente abençoado.
Bendito seja o Saint’s, o pobre coitado.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ares e Apolo

Quando menino, Zeus havia por sonho tinha me avisado:

“Não há nada de errado,
Com que irás escolher.
Mas meu filho,
Tome cuidado
Com destino que queres
Por fim ter.”

Acordei por um enorme clarão no meio da noite,
E Ares mostrou-me portando em uma das suas mãos,
Um presente que faria qualquer mortal,
Brigar com espada e açoite.

“Preste atenção,
Desta dádiva
Muitos mortais adorariam
Apenas sentir a vibração.

Com cordões de lã negra,
Uma caixa de veludo e cetim
Portando pérolas e Ambrósia
E o coração do dragão ”.

Maravilhado por apenas sentir aquela energia,
Me senti em pura euforia,
E descobri que eu não sabia,
O que ele queria me dizer.

E ele com muita destreza,
Pôs em cima de minha mesa,
Um tanto de vinho puro,
E indagou totalmente seguro:

“É essa benção que queres ter?”

Mas a minha casa brilhou como a filha do sol,
E me senti como um peixe no anzol,
Meio que pra morrer.
Então meus olhos viram, o que nunca imaginei ver.

Apolo o deus dourado, veio me oferecer um outro trato.
E totalmente inebriado, ele se pôs a dizer:
“Isso é para poucos. Mortais que viram ficaram loucos.
Espero que você saiba escolher.

Com fios dourados,
Uma caixa bronzeada
Portando ouro e prata
E as asas de um anjo “.

Então sem saber o que dizer,
Me mostrei como menino,
Dizendo que esse insólito,
Havia me pego desprevenido.

Os deuses se entreolharam,
Riram... Gargalharam...
Depois, sérios me falaram,
O que eu temia saber.

“ Mortal, isso é uma bênção.
E pode-se tornar maldição.
Hades adoraria
Em ti por a mão.”

Ao ouvir tais palavras,
Pedia a Atena por minha alma,
E então com muita calma,
Eu me coloquei a pensar.

Decidi como que por um pulo,
Olhei para eles inseguro,
Falei como quem vai morrer:
“É a segunda das caixas que quero ter.”

Ares deu-me uma terrível gargalhada,
Olhou para os céus,
E disse como quem não diz nada,
“Mortal, é pela solidão que vais morrer”.

Apolo deu outra risada,
Se prostrou contra uma bancada,
Colocou a caixa selada,
Dizendo: “Abra quando tiver olhos para ver”.

Então hoje vivo sem nada.
E essa história foi contada,
Para que possas entender
O quão revistas dádivas devem ser.

Peço apenas que não me pergunte nada,
Aprecie a madrugada,
Ela é apenas um bebê.
E sempre, sempre, sempre...

Pense muito bem no que vai escolher.

Silêncio

Existe na minha rua um silêncio vertiginoso
Seja lá por qual for o motivo, ela não parece respirar.
A vida não corre pelos vãos, vielas, becos e cruzamentos.
Não há mais cânticos na encruzilhada,
Não sei se por que não é dia, mas madrugada.
Não sei se é por que hoje minha alegria não é dividida.
Não sei se é por que não há autos, e não há escadas
Que possam ranger ou fazer barulho.
Não sei se é por que eu escrevo e eles dormem,
Se pra eles são quatro, mas só me deram duas estações.
Se por que o que é delicioso é também o mais proibido.
O se é por que meu maior refúgio é meu pensamento,
Se é por que minha casa mora dentro de mim.
Se for por que eu não quis e não pude controlar sua vontade,
Já que o seu instinto foi tão poderoso quanto o meu.
Se for por que essa sede é tão insaciável,
Ou por que estão todos cansados.
Se for por que minha fé em alguém é tão facilmente abalável,
Ou o tédio, que é tão sociável.
Não sei qual é a estreita relação entre o não saber,
E o não querer questionar.
Se o medo de machucar alguém, possa por fim me machucar.
Sei somente que essa rua fede a silêncio em pleno carnaval,
E nos vãos, vielas, becos e cruzamentos,
Moram muito mais do que seres esquecidos.
Moram lá, uma revolução de pensamentos.
E aqui dorme tranqüilo, um romântico exasperado.

A canção do holocausto.

Cada cabeça é uma sentença.
Vamos vender o nosso equilíbrio por aulas de Yoga.
Trocar nossos rádios por pilhas,
Recarregar o celular com o fio da televisão.
Mastigar urânio com arroz e feijão.
Escrever na mesa e apagar a tinta com borracha e caneta.
Dançar reggae no embalo do perneta.
Comer cactos e cuspir agulhas,
Beber café e urinar fagulhas.
Tomar álcool até o motor funcionar.
Vamos deslizar nas paredes,
Usar o desfribrilador até o coração parar.
Vamos andar para trás, como os relógios do conde.
Cuspir fogo e espirrar gelo.
Arrumar as nossas malas para uma viajem astral.
Tirar minha pele pra te dar-te um casaco de pêlos.
Fazer o nosso governo uma anarquia geral,
Encurralar o demônio na encruzilhada.
Matar nosso Deus com uma lança e uma espada.
Zombar de nossos filhos, matar os nossos índios.
Descobrir a melhor maneira de apertar uma mão.
Decodificar o pensamento do criador, criando ervilhas.
Dizimar, aniquilar e destroçar a mais fraca nação.
Fazer amor e paz, montando guerrilhas.
Gostar tanto pra fazer o sangue jorrar.
Flutuar em cima da cama,
Usar rosas como punhal no peito de quem se ama.
Usar uma guitarra como agente apaziguador,
Enquanto a socamos contra o maldito ditador.
Enquanto pássaros voam nos mares,
E peixes nadam no asfalto.
Enquanto mandamos tudo pelos ares,
E cantamos a canção do holocausto.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

índigo

Acalme-se, pequena criança,
Eles só querem sentir a luz de você.
Acalme-se, garoto iluminado.
Ensine-me a viver.
Ensine-me a viver...

Mostre-me com sua música,
Como Lennon mostrou,
Mostre para todos nós,
Como nos filmes que Chaplin filmou.

Vamos, pequena criança, a vida precisa te ver.
Não deixe criança...
Eles não podem tomar o índigo de você.
Mostre-nos como viver,
Ensine como viver...

Mostre-nos a igualdade que precisamos ter,
Como Marley cantou,
Mostre pra todos, criança,
Como Leonardo desenhou.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Romântico realista

É como apertar um punhado de areia nas mãos
É como implorar ao padre pra que te possas perdoar.
É olhar para o azul do céu laranja-avermelhado,
É sentir seu corpo ser recarregado pelo mar.
É acordar e não abrir os olhos
É escutar e não ouvir falar,
É ter mãos e não sentir tocar.
É sentir raiva e guardar.
É olhar toda e não ver
É o não ter mais pele pra arrepiar,
É ser um clássico moderno.
É ter lápis e não desenhar.
É ser amado e esquecido,
É ser odiado, no entanto querido.
É um é um eufórico depressivo,
É matar o infinito.
É saber e não fazer na vista.
É ter tudo rápido e sentir demora.
É ser o romântico realista.
É nada ao mesmo tempo tudo, e no inexato agora.

Barulho demais distrai a mente.

3 velhinhas suicidas.

Eu já me cansei de esperar. Cansei de perdoar e tolerar.
Estou cansado de prever todos os seus passos.
Esses que tinham dito nunca terem dado.
Estou cansado de estar sempre ao avesso, ao contrário.

Fraquejando de tanta solidão.
Dessa que cresce mais ainda no seu abraço.
Naquela que grita quando eu cruzo tais olhos.
Olhos amáveis, amendoados e letais.
E eu adoro perecer entre os cílios deles.

Estou cansado de tanta debilidade.
Atitudes de duplo sentido, coisas não explicadas.
Explicações ilógicas, explicações lógicas, facas de borracha, mão dupla, mão de ferro.
Punhais nas costas.

Estou tonto com tanta falsidade,
Falsidade ideológica, produtos contrabandeados, relacionamentos comprados.
Relacionamentos profundos.
Abduções, estelionatos, divórcios, seitas satânicas, assaltos, e freirinhas satânicas assaltando divorciados.
Relacionamentos abruptos.

Estou cansado de ser julgado por erros cometidos pelo meu juiz.
É fácil falar de outros e esquecer a si mesmo.
É sagaz, fugaz, imatura e fútil. E ao mesmo tempo fala mal de todos eles.
E os beija todas as manhãs.

O jardim do poeta

Promessas são apenas palavras ditas com muita entonação.
Tapa, é aquilo que seu rosto ganha com a força de uma mão.
Sonhos apenas são da mente, uma projeção.
Um sentido pra existência, só depende de sua visão.

Não há mais flores naquele jardim.
Para o poeta simplesmente sobraram lágrimas
Um pouco de palavras embargadas,
E uma ferida ardente no meio do coração.

Mentiras são apenas desinformações seletivas.
Afrontas são atitudes com peso negativo na medida
Para fazer uma pessoa se tornar inimiga,
Um antigo irmão em sua antiga vida...

Não há mais água nesse velho poço,
As viajantes distantes aqui não podem mais se refrescar.
A vida é injusta para o poeta.
Tomou dele a antiga inspiração para recitar.

O corpo

Beije esse corpo todo,
Sinta o cheiro delicioso invadindo sua alma,
O gosto salgado salivando em tua boca,
O toque da pele ao sentir a outra.

Mas nunca se esqueça que ele nunca foi seu,
Nunca se esqueça, que o mundo tomará de você.
O que nunca foi seu.

Morra de vontade de ouvir apenas a voz dele,
Morra de preocupações se uma farpa ferir ele,
Mas saiba que no fim das contas,
Nada doerá mais do que perder todo o amor que depositou nele.

Nunca se esqueça que ele nunca foi seu,
Nunca se esqueça que o mundo um dia poderá tomá-lo de você,
Aquele corpo... Que nunca foi seu.

E quando andar cabisbaixo pelos vãos,
Quando sair procurando por olhares em qualquer direção...
Lembre que as rosas exalam um cheiro maravilhoso,
Mas apenas quando se abrem em determinada estação.

Assim como tomaram o que um dia você teve,
O mundo tomará providências pra que um dia seja você,
E nesse dia quando o destino se por a rir dessa tragédia,
Esteja à parte do drama que viveu, e se mantenha longe da comédia.

A fúria dos deuses

Acho que alguém socou a fúria dos deuses.
Acho que ela deve ter cambaleado até a direita,
Olhado a todos enraivada,
E ter corrido direto pro meu lado.

Deve ser meio irônico...
Não saber o que se deve saber,
Mas ainda assim rir da miséria.
Mesmo na dúvida mortal.

Deve ser meio ácido...
Carregar algo que não é seu,
Entregar a alguém que não vai cuidar.
E esperar a benção de Deus.

Acho que alguém deve ter me avisado antes.
Acho que vi isso escrito em algum lugar.
Mas a dúvida e até a certeza,
São psicológicas e podem me matar.

A.A.

Esse entorpecente me deixa só aliviado.
Essa discussão diária é um porre vindo em ânforas.
Essa carranca anfitriã foi que me fez ir embora.

Vou bebericar um pouco de vinho e mel.

Essa sua armadura bélica de rancor é só medo.
Esse jeito superior de todos os que te rodeiam é medo.
Esse seu olhar é medo. Puro medo.

Vou beber um pouco de vinho e mel.

E aqueles que porventura chegarem a entrar neste reino,
Serão apenas bem-aventurados, solitários e cansados guerreiros.
E que seu nome seja santificado.

Enquanto eu bebo demasiadamente, vinho e mel.

Animosidade Anódina*

O número imperfeito

“Se você quiser alguém pra ser só seu
É só não se esquecer, eu estarei aqui”.
Legião Urbana - Eu era um lobisomem juvenil

O número imperfeito

Procurei em outros olhos encontrar seus olhares,
Eu tentei sobre outros ombros ver céus e mares.
Levantei-me todos esses dias tentando deitar,
Ter uma noite tranqüila de sono e poder sonhar.

Acertei muitas vezes o nariz na porta,
Me perdi em um labirinto de poesia morta.
Troquei de lugar com a mágoa que tentei afogar.
Um dia, tive tudo o que alguém poderia encontrar.

Encontrei no riso uma nova saída,
No seu sorriso percebi o que perdi da vida.
Foi com o resto do sentimento que sacudi a poeira,
Fui nadando esses tempos em uma piscina sem beira.

E sete são os selos do apocalipse,
E sete foram os dias em que Deus criou o mundo.
E seis foram aqueles imperfeitos,
Nos quais, não houveram defeitos
Que não soubemos amar.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Tinta mística II

Tem um cheiro forte aqui,
Ele entra pelo meu nariz,
Invade minha mente,
Inquieta minha alma.

Existem palavras marcantes aqui,
Elas entram pelos meus ouvidos,
Tatuam em minha pele,
E me deixam a rabiscar.

Tem fatos marcantes aqui,
Eles são poucos, e memoráveis.
Eles surgiram no escuro,
E me fizeram chorar.

Jah

Seu coração tem a força de um milhão de bombas atômicas,
Seu sangue é o mais puro de todos os ácidos.
Seus olhos vêem além do que existe.
Ele expira o que vamos respirar.

E ele está voltando...
Voltando...

A sua aura cega o mais puro dos santos,
A sua voz, é tão doce que amarga.
Seu corpo é formado por milhões de almas,
Sua música nos faz delirar.

E ele está para voltar...

Ele está em todo canto com sua energia,
Ele movimenta as coisas com suas gigantescas mãos.
O universo é o órgão vital dele.
Por ele, o equilíbrio ainda é mantido.

Ele está entre nós.

Seu julgo é decidido desde primórdios,
A maior dádiva concebida é o livre-arbítrio,
Por energias positivas seu corpo é permeado.
Ele pode sentir cada alma que vaga no mundo.

Ele vive... Ele vive...

Sonhos e segredos

Mergulhando na lama,
Beijando os pés do poder.
É assim que esperamos o dia nascer.

Catando alguém de lugar em lugar.
Prazer fácil pode até encontrar,
Mas boa parte do resto é traiçoeiro.

Bebendo e caindo em buracos,
Achando que o máximo nunca foi encontrado.
Jamais encontraremos um meio.

E nada mais o abalará,
E ninguém jamais saberá,
O quanto pesa o mundo em suas costas.

E seus segredos serão apenas segredos,
E seus sonhos, seus brinquedos.
Até serem revelados.

Entendê-los será sempre um problema,
Suas mentes chafurdam em dilemas,
De paradoxos e contrastes amaldiçoados.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cura no céu

Não saber o que quer, já é caminho para saber,
Às vezes sabe-se o que não queremos quando temos dúvidas se queremos.
Não haverá dúvidas... Nunca há dúvidas...
O paraíso não seria tediante, se apenas feito por perfeição?

Sentir o peso do mundo em suas costas nunca foi agradável,
Menos ainda quando os seus pés não tocam chão firme.
Deus não está nas palavras de um homem ou dentro de uma igreja...
Mas a energia que ele emana está dentro de cada um de nós!

Mas, por mais cético que o homem seja, ele acredita no que quer.
E a justiça espelha-se na verdade, mas nem sempre a verdade depende da justiça.
Mas isso não te dá o direito de mentir pra mim. Não...
Então pense bem mais que duas vezes antes de magoar um coração.

A solidão quase sempre fornece respostas a uma única pessoa...
Só música é namorada dos amantes, prima dos felizes e mãe dos decadentes.
Não quero aprender tudo isso pra chorar sozinho no fim. Não...
Se apegar a carne é se apegar as cinzas... Mas o toque é delicioso.

Estou procurando uma cura...
Estou procurando no céu.
Sei que o céu é o limite.
E do chão eu não passo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sem Título II

Em seus olhos há um reflexo,
De um mundo de cores e tons.
Com seus ouvidos espertos,
Vai distinguindo músicas e sons.

E ela tem um coração gigante,
Pra um corpo tão pequeno.
É um traço inconstante,
No meio da cidade grande.

Ela é tão simples o quanto pode,
Mas é totalmente singular,
Com seu ar inteligente,
Ela me faz pensar.

Ela me fez ficar menos menino,
É uma boa cura,
Contra qualquer veneno (...)

O caroço do pescoço.

Quero que minha cama seja minha sepultura,
Quero sentir amor por todos os centímetros de meus ossos.
Quero que ela seja minha cura.
Quero esquecer o caroço do pescoço.

Quem me ouve pensa que é piada,
E quem lê pensa que é brincadeira.
Mas é sério, eu vou pegar uma estrada,
Que me leve pra Ribeira.

Quero um dia me encontrar com Bob Marley,
Pra fazer aquele bom reggae,
Dizer: “Você é gente boa, véi!”,
E que ele diga: “Tu também, não há quem negue!”.

Quero ver tudo girar, até encontrar seu rosto.
Pedir ao redentor mais uns dias,
Beijar teus lábios, colar no seu corpo,
Esperar menos da vida... Somente alegrias.

Mas eu só não esqueço,
O caroço do pescoço!

Sem Título I

Amor, você sabe que isso é fogo de palha.
Você sabe que um dia vai olhar pro lado,
E não serei eu a dormir em sua cama.

Amor... Você sabe que deve aproveitar,
Está quente ainda... E é breve.
Não temos paciência, nem o tempo todo.
Logo o verão vai chegar.

Amor, amor... Amor...
Você não sabe o que eu sinto,
Vamos abraçar isso logo.

Amor, eu falo sobre o futuro,
Eu falo sobre a memória em esquecimento.
Sobre não estarmos mais unidos...

Amor... Amor... Amor...
Nada é eterno...
As luzes se apagam, a cortina se fecha.
Logo será nossa vez.

Amor... Andemos juntos...
Amor... Amemos juntos...
Amor... Tão breve...

Minha energia

Soprando de planície a planície,
Voando na velocidade da luz.
Batendo na velocidade do seu coração,
Ou na do seu pensamento.
Das raízes até o topo,
Pairando dos céus, mergulhando nos mares,
Queimando coisas, conhecendo lugares.
Nas suas aspirações, seus desejos vorazes.
Colhendo e deixando coisas, a cada movimento.
Em todos os lugares, a todo o momento,
Seja muito rápido ou muito lento.
A minha energia fluindo no espaço...
Até o infinito.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Instinto extinto

Cada alma que vive
É irmã de uma que morre.
Cada amor que vaga,
Dá as mãos a um ódio que amarga.

Cada lágrima salgada caída,
Clama um sorriso doce de alegria.
Cada beijo quente,
Pode seguir de um tapa ardente.

Não foi por causa de aviso...
O instinto extinto é um alarme...

Cada abraço amigo,
É irmão de um punhal inimigo,
Cada memória esquecida,
É irmã de uma relembrada.

Cada pessoa querida,
Pode ser um inimigo não declarado.
Cada sentença julgada,
Pode ser uma escolha errada.

Não foi por falta de aviso.
O instinto extinto é um alarme!

Uma despedida dolorosa,
Pode ser a saída de uma convivência forçada.
Uma mão estendida,
É encaixada nas costas empurrada.

Não foi por falta de aviso...
Seu extinto instinto...
É um alarme.

Sem Nirvana

Provavelmente,
Amável.
Inexoravelmente,
Frio.
Totalmente,
inefável.
Deliciosamente
Inebriável.
Inexplicavelmente,
Exaurido.
Vultosamente,
Doloroso.
Incabível
De nirvana.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Cinco sentidos

Pode ouvir?
Então preste atenção...
Aquele garoto fala com você.
Ele lambe as feridas,
Ele lhe pede dinheiro.
é o vício que mata a fome dele.

Pode sentir?
Ele fede.
Em quanto você cheira a medo,
E raciona água.
Somos nós, o maior bem da humanidade.

Pode ver?
Ele tem ódio de você.
Em quanto dorme em sua cama quente e confortável...
O concreto frio o daz ferver.
E ele quer tomar de ti, o que não pode ter...

Pode tocar?
Não. Não se rebaixaria a isso...
Mas converse com ele,
Talvez, ele vá embora.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Asas para anjos, Imortalidade para os Deuses.

Eu tentei um anjo,
E ele pediu a mortalidade.
E por pecado, caímos em terra.

Só que pra minha desventura,
Esse anjo quis se desvencilhar,
E ao acaso eu lhe dei,
A asa que havia roubado.

Agora que ele voa,
Alto, rápido e livre,
Eu venjo a sombra que ele projeta,
Embaixo do sol.

Não me sinto mal,
Pássaros não devem ser engaiolados,
Tomem essa ambrosia de mim,
Pois meu amor, continua imortal

Teatroeiros

Teatro... Teatro.
A arte de ser, e se serei!
Teatro!
Faças o que tu queres!-Há de ser tudo na lei!-
Teatro.
Somos e seremos!
A deliciosa brincadeira de fingir,
O maravilhoso poder de incorporar!
Teatro!
Das maravilhas que se pode ver,
Ao que podemos encenar.
Teatro!
O mais puro diamante que o homem pôde cavar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Tinta mística

Ela escreveu na parede de meu quarto,
Por mais que eu tente, sei que a tinta não vai sair.
Bons tempos costumam passar,
Mas há coisas que a memória não apaga.

Não sinto peso do fim ou alívio.
É como se a tinta esteja ainda pra vir. Talvez demore...
De qualquer forma, não dá pra esquecer,
Por que as palavras entram na minha mente,
As inscrições tiram meu sono...

Você nunca sabe o quanto vale pra alguém.
Você é como palavras Diversos empregos e sentidos.
Mas marcas em paredes não sofrem reformas.
Só a branca tinta poderá as apagar.

Pior, só quando não se quer apagá-las,
Não quero apagar...
O tom, o toque, o cheiro forte... O momento
As palavras(...)

Ela escreveu, na parede de minha mente...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Até onde?

Até onde o meu corpo vai estar alinhado perfeitamente a minha mente?

Até quando eu serei esse mar de educação e formalidades?

Estou começando a questionar o que estava calado.

E as minhas noções estão mudando,

Eu acho que eu não quero ir além.

Não consegui entender o seu ponto de vista,

E não consigo ficar mais tão distante de você.

Porém eu quero me afastar...

Até quando eu serei esse poço de compreensão?

Eu serei pra sempre tão tranqüilo?

Ou um dia me rebelarei em explosão?

Eu tenho que mudar, deixar de ser tão estúpido,

Começar a barrar meu sentimentalismo,

Ser um sistematizado racional. Com problemas racionais.

Um jovem patético, com uma vida patética. Num mundo patético.

Não, eu não quero isso.

Render-me ao que eu acho mais podre.

Acho que a solidão me faz bem,

Eu não quero a pena de ninguém.

Ta na hora de viver minha arte. Tratar de mim.

A vida muda, o tempo passa...

É exatamente assim.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Você sabe o que você é
Você sabe o que você quer
Por isso só pode tomar conta de você
E só você sabe pra onde quer ir.

"Concertozinho" da despedida

Sei que eu fiz o meu melhor,
De tudo o que eu quiz, fiz e desejei...
Eu dei o meu melhor.
Tudo em máximo.

Hoje eu abro os braços,
Abraço a dor e sinto o peso do mundo.
O amor é belo e sagrado
E como tudo santificado, virou uma arma de destruição.

Me sinto cansado, acabado
Me sinto só e perdido.
A caminho da solidão.
Talvez tenha sido o melhor desde o início.

E o melhor que se pode levar, você teve de mim.