quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sandman

Eu tenho o mundo a frente e tudo o que consigo fazer é pensar em ti. Então fecho os olhos, abraçando a escuridão, e é teu sorriso que atravessa o vazio como um raio de luz. Eu a absorvo. Eu aproveito tudo o que você tem a me dar, retribuindo. Logo depois eu me torno vazio. Um velho jovem, tolo e vazio. E há quem diga que o amor não pode morrer. Pois eles estão errados.
Então espero como uma criança espera pelo doce, como o doente espera a cura, como o viciado espera a droga. O tempo passa mais devagar neste reino, mas eu me sento nas areias e espero. Depois então avanço. Saio de meu castelo negro, deixo que minha imaginação cesse por dois segundos e recomeço. O recomeço parece uma cura, o recomeço sempre dá no mesmo final.
E o fim é inevitável. Ele vem, como a morte ou desespero, talvez como desejo ou sonho. Mas vem. Retirando-me dessa infinidade de podridão e sujeira que este mundo mortal oferece. Sugando-me para fora da consciência mundana, me fazendo ser minúsculo e grandioso de uma só vez. Eu sou o grande mestre do nada, este é o meu reino grandioso do imenso invisível, e aqui me casarei com a maior mortal que eu puder encontrar.
Eu ergo as minhas paredes com o barro do silêncio e as pedras da saudade, as janelas eu faço com o reflexo das memórias e as telhas eu forjo feitas de coragem. Inabalável. As portas eu faço com minha solidão, sendo intransponíveis. Muralhas de teimosia. Na fachada e na varanda eu ponho um tanto de minha vaidade, meu castelo não é tão belo quanto pensas. Há duas torres: Amor e ódio, ambas tem a mesma altura, a da direita pode-se ver a luz de uma vela acesa na janela. A frente existe uma ponte, a ponte do esquecimento, ao redor da muralha há um lago, o lago da ganância. E nos jardins do medo existe a fonte do desejo. Antes, ainda em meus domínios, existe o labirinto da vergonha. Onde os homens se perdem por natureza. Não deixando nada sair. Todas as noites, há um velho sentado no telhado a tocar melodias suaves em sua flauta a luz do luar. É meu espírito, ele se recusa a partir ao amanhecer, cedendo após muita batalha.
Esse é o reino que construí para mim. O reino vazio, o reino do nada. O reino dos sonhos. Se você olhar bem, não verá absolutamente nada. Talvez veja tudo. Mas verá algo. Isso depende de seu espírito, de sua consciência. Não sejas louco de entrar em meu reino, não sairás. Esse é meu recado para ti. Deixo-te as chaves para a porta, o mapa do labirinto, e a senha da torre esquerda. Mon Petit... Mon cherry...

Mon amour.

Nenhum comentário:

Postar um comentário