segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O grito

Eu sinto o silêncio perfurando os meus tímpanos,
Não o que nos brinda a paz, mas o silêncio da profunda solidão.
Um ano inteiro, trezentos e sessenta e cinco dias desperdiçados;
Despedaçados como o lençol branco esparramado sobre a cama desarrumada.

O nosso calar é traiçoeiro, algo está nos matando quando nos omitimos.
Índigos maculados de cinza sob o céu negro.
Rostos novos, inchados por chorar. Enrugados por se preocupar.
Sorrisos amarelos. Atores natos.

Eu gritarei no coração da cidade, sob a rosa dos ventos.
A voz a ecoar nas ladeiras, escadarias, sob as mãos e olhos de estátuas,
Nos alambiques, hotéis, restaurantes e puteiros.
Sobre os arranha-céus, derrubando aviões, pairando em estações.

Sou o Zeppelin sem honra, sou o amor que se recusa a morrer.
Sou a virtude e a fidelidade, sou o ódio e o desejo. Sou o beijo.
Vejo o relógio apontar horas tardias, vejo a manhã nascer.
Eu vejo um futuro conturbado, como uma pedra atirada num lago.

A euforia, a agonia, a desavença, as juras de morte, a sorte.
Ainda que pra isso sobreviva apenas entre nós o mais forte.
Força ou loucura, coragem ou estupidez, que seja.
É necessário viver um mundo paralelo pra se sentar à nossa mesa.

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