sábado, 23 de outubro de 2010

A realidade de um lunático

Tinha um pedaço de açúcar no meu lábio.
E eu cancelei a ligação antes do primeiro toque.
A realidade parece um vórtice agora.
E cada dia passa eu vou ficando mais louco.
Minha mão esquerda já não fecha com toda a força.
E tem um caroço no meu dedo-médio.
Eu não vou ligar pra você. Você não merece.
Mas eu ligo por que desejo tanto.
E eu não sonho. Não tenho mais sonhos. Não recebo mais avisos.
Agora minha mente divaga quando uma partícula de poeira passa.
E eu escrevo tanta besteira. Desenho tanta coisa tosca.
E dizem que é arte. Arte é o que eu faço pra conviver com meus pais.
Arte é quando eu me arrepio todo quando piso no palco.
Pouco me importa o teu sorriso. Tenho que cuidar do meu
E não espero tanto que passes por mim,
Deixo os idiotas a corteja-la sabendo que eles não têm chances.
Escrevo este monótono texto para dizer-te
Que a tristeza já não seduz as minhas lágrimas.
E as belas coisas ainda tiram o meu fôlego.
Eu não faço sentido, eu não tenho manual.
Eu apenas existo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu eu mesmo e a areia. (Quão original)

Estavam sentados os dois em um pequeno muro cheio de areia, olhando para o mar, com o sol nas suas costas fazendo sombras por culpa dos coqueiros. A areia era branca, a brisa era fresca, o mar parecia um reflexo se quebrando do céu azul acima. O horizonte parecia interminável, intocável.
-Não dá pra ser um cara bom e equilibrado. As pessoas vão mentir pra você, vão te usar, vão te trair. Vão fazer o que querem mais e mais vezes, e quando você perder a sua serventia, já haverá outro, igual ou melhor que você, pronto para ser usado. Se quiser continuar tentando ser santo, vai morrer sozinho.
-Eu não penso assim.
-Nunca pensa. Age por impulso, sempre pondo o coração sobre todas as coisas.
-Não sou mais assim.
-Não, não é. Talvez não seja. Mas se tornou tão racional que mal pensa. Tão frio que não há mais ninguém pra falar. Passou mais de seis meses de sua vida em silêncio. Sem companhia, sem amigos, sem desabafar todos os golpes que recebia.
-Foi melhor assim.
-Mesmo? Quantas lágrimas derramou?
-Nenhuma.
-E isso lhe fez bem? Como se sente por dentro?
-Sem alegria. Sem tristeza.
-A quanto tempo não ouvia música?
-Muito tempo.
-Deixou de ser humano. Uma hora terás de magoar ou amar alguém, pra não continuar secando por dentro.
-Eu não preciso amar alguém pra ser humano.
-O ser humano não consegue viver sozinho, ele definha e morre. Você precisa de contato, de algo pra se agarrar, pra te fazer pensar, deduzir cada movimento, um desafio pra sua cabeça e coração. Uma pessoa a sua altura.
-Ele põe a mão na cabeça sentindo os seus cabelos crespos -
-Eu não preciso de ninguém pra me derrubar, pra me deixar abaixo do chão. Eu não preciso de nada me marcando, arrancando pedaços. Eu não quero tentar todos os dias achar um lar onde eu possa ficar seguro, pois este lugar não existe! –uma lágrima cai, molhando sua camisa- Eu não quero mais ter que ligar pra ninguém pedindo qualquer arrego, ou uma palavra de esperança! Eu posso muito bem ficar sozinho, tantos de vocês já me deixaram! Depois que as pessoas acharam a companhia que precisavam, eu deixei de ter serventia! Por que não me deixa sozinho? Eu não servirei pra você amanhã ou depois, quando achares coisa melhor... Por que não vai embora também?
-Por que eu sou parte de você, Allan. E uma hora alguém aparecerá, e eu deixarei de ter serventia. – Pôs o seu braço direito sobre o ombro dele- Eu não posso deixá-lo sozinho. Nunca.
-Allan enxuga as lágrimas, e olha ao lado, não vendo nada.
– Talvez eu nunca esteja.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma poesia para as paredes.

A névoa fina do saudosismo de um homem apegado aos detalhes,
A lembrança de uma senhora que nunca existiu.
Personagens nascidos das composições de Vivaldi
Wagner, Mozart, Tchaikovsky e Bach.

Tardes calorentas e tecidos negros
Piso de madeira e vozes a ecoar.
Era o futuro, era o acaso
Era o desejo e a vontade a brotar.

Uma voz rouca sussurra no telefone.
A sequencia de erros se depositará no maior acerto a se notar.
Achei um cabelo teu. Recuso-me a acreditar.
É poesia em demasia, o cúmulo da fantasia.

Na noite dois caminhos se fazem necessários.
Quatro cajadadas e o mesmo coelho. O troféu é pequeno, mal se pode enxergar.
O espetáculo termina: As cortinas se fecham e se ouve os aplausos.
Onde há mente há também um coração a morar?