segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O grito

Eu sinto o silêncio perfurando os meus tímpanos,
Não o que nos brinda a paz, mas o silêncio da profunda solidão.
Um ano inteiro, trezentos e sessenta e cinco dias desperdiçados;
Despedaçados como o lençol branco esparramado sobre a cama desarrumada.

O nosso calar é traiçoeiro, algo está nos matando quando nos omitimos.
Índigos maculados de cinza sob o céu negro.
Rostos novos, inchados por chorar. Enrugados por se preocupar.
Sorrisos amarelos. Atores natos.

Eu gritarei no coração da cidade, sob a rosa dos ventos.
A voz a ecoar nas ladeiras, escadarias, sob as mãos e olhos de estátuas,
Nos alambiques, hotéis, restaurantes e puteiros.
Sobre os arranha-céus, derrubando aviões, pairando em estações.

Sou o Zeppelin sem honra, sou o amor que se recusa a morrer.
Sou a virtude e a fidelidade, sou o ódio e o desejo. Sou o beijo.
Vejo o relógio apontar horas tardias, vejo a manhã nascer.
Eu vejo um futuro conturbado, como uma pedra atirada num lago.

A euforia, a agonia, a desavença, as juras de morte, a sorte.
Ainda que pra isso sobreviva apenas entre nós o mais forte.
Força ou loucura, coragem ou estupidez, que seja.
É necessário viver um mundo paralelo pra se sentar à nossa mesa.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tive uma overdose de você

Tive uma overdose do você.
Com nossas músicas, com nossas fotos, cartas, textos e coisas.
Preciso me reabilitar.
Só não quero.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sandman

Eu tenho o mundo a frente e tudo o que consigo fazer é pensar em ti. Então fecho os olhos, abraçando a escuridão, e é teu sorriso que atravessa o vazio como um raio de luz. Eu a absorvo. Eu aproveito tudo o que você tem a me dar, retribuindo. Logo depois eu me torno vazio. Um velho jovem, tolo e vazio. E há quem diga que o amor não pode morrer. Pois eles estão errados.
Então espero como uma criança espera pelo doce, como o doente espera a cura, como o viciado espera a droga. O tempo passa mais devagar neste reino, mas eu me sento nas areias e espero. Depois então avanço. Saio de meu castelo negro, deixo que minha imaginação cesse por dois segundos e recomeço. O recomeço parece uma cura, o recomeço sempre dá no mesmo final.
E o fim é inevitável. Ele vem, como a morte ou desespero, talvez como desejo ou sonho. Mas vem. Retirando-me dessa infinidade de podridão e sujeira que este mundo mortal oferece. Sugando-me para fora da consciência mundana, me fazendo ser minúsculo e grandioso de uma só vez. Eu sou o grande mestre do nada, este é o meu reino grandioso do imenso invisível, e aqui me casarei com a maior mortal que eu puder encontrar.
Eu ergo as minhas paredes com o barro do silêncio e as pedras da saudade, as janelas eu faço com o reflexo das memórias e as telhas eu forjo feitas de coragem. Inabalável. As portas eu faço com minha solidão, sendo intransponíveis. Muralhas de teimosia. Na fachada e na varanda eu ponho um tanto de minha vaidade, meu castelo não é tão belo quanto pensas. Há duas torres: Amor e ódio, ambas tem a mesma altura, a da direita pode-se ver a luz de uma vela acesa na janela. A frente existe uma ponte, a ponte do esquecimento, ao redor da muralha há um lago, o lago da ganância. E nos jardins do medo existe a fonte do desejo. Antes, ainda em meus domínios, existe o labirinto da vergonha. Onde os homens se perdem por natureza. Não deixando nada sair. Todas as noites, há um velho sentado no telhado a tocar melodias suaves em sua flauta a luz do luar. É meu espírito, ele se recusa a partir ao amanhecer, cedendo após muita batalha.
Esse é o reino que construí para mim. O reino vazio, o reino do nada. O reino dos sonhos. Se você olhar bem, não verá absolutamente nada. Talvez veja tudo. Mas verá algo. Isso depende de seu espírito, de sua consciência. Não sejas louco de entrar em meu reino, não sairás. Esse é meu recado para ti. Deixo-te as chaves para a porta, o mapa do labirinto, e a senha da torre esquerda. Mon Petit... Mon cherry...

Mon amour.

Ver o céu.

Eu tentei ser normal como todos vocês por um período de quase um ano,
Mas depois de um tempo me senti como um cão sem dono.
Amordaçado e frustrado, preso em baixo da chuva.

Por menos poético e mais dramático que pareça, é verdade.
E o que você tem haver com isso?
É como se minha alma estivesse em estado de calamidade.

Cores, cores, cores... Um infinito universo multicolorido
Um turbilhão de acordes e gritos aos montes.
É de música que estou falando.
O universo caindo sobre minha cabeça e a música trazendo paz.

Ficar em casa me deprime. Então saio e busco companhia.
Mas quando eu os vejo, estão todos afundados neste sistema.
E o mundo sobre mim ganha mais peso a cada dia.

Vá pintar, escrever, ou saia ao léu.
Tinha tanto tempo que não via o céu,
Que quando olhei senti vertigem.