sábado, 27 de março de 2010

Mogno e Marfim

Quando morrer quero que me enterrem
Com o meu cajado e minha coroa de ossos,
Com meu amor e com os meus vícios,
Os meus defeitos, as minhas virtudes.

Pois quero em vida tudo o que querem me dar em morte,
Pois quero em vida,quebrar o limite do limite do limite,
Porque eu quero em vida, tudo o desejo da carne saciada.

Pois eu caí do paraíso, e aqui não há coros ou nuvens,
Não mandaram, não vieram, anjos pra me resgatar.
Na minha vida exarcebada onde só há verdade em minha boca.
Do suspiro, do retiro, que eu pretendo dar.

Quando por fim resolverem que devo partir, saiba que foi por amor.
Quando meus pés não tocarem o chão, o motivo foi justo.
Tenho a minha espada e meu candelabro,
Tenho a minha taça, e minha fonte de luz.

sábado, 6 de março de 2010

A ladra de lágrimas

No ponto mais alto do planeta, no lugar onde as trevas jamais tocariam a luz, é a moradia da mulher que colecionava lágrimas. Entre um céu azul e nuvens brancas como papel, está o templo da feiticeira. Cheirando a incenso, ervas, plantas medicinais e alguns tons indescritíveis, com umas músicas delirantes, que mistura um pouco de indianismo, cultura africana e indígena sul-africana. É lá que ela guarda, em uma sala maravilhosamente esculpida, o produto de séculos de trabalho árduo.

Durante a noite, ela vai a terra e se mistura aos mortais para obter a melhor gota de água e sal, que ela procura a anos e nunca conseguiu encontrar. A mais bela, a mais brilhante, um fruto da tristeza de um grande amor, do mais puro coração humano. A lágrima do sétimo filho do sétimo filho. E foi numa dessas viagens por várias terras, onde ela colhia um pouco da tristeza de cada ser humano e também da alegria, que ela encontrou o homem que lhe daria a melhor e mais pura lágrima que precisava. Mas, por infelicidade do acaso, a feiticeira acabou por se apaixonar pelo escolhido. E eles se entregaram durante um mês inteiro, a um amor sem limites, onde um acabou se abraçando a paixão do outro, em uma felicidade plena. E o escolhido havia perdido completamente a noção de quem ela era, e ela havia esquecido qual a verdadeira razão de estar ao lado dele. Até que ela acordou para o que realmente deveria ser feito.

Acabou por tentar feri-lo com a espada, mas ele sabia o que ela queria e não chorou. E ela tentou matar todos os animais de sua fazenda, mas ele não chorou. Ela ameaçou tirar a vida dele, mas ainda assim ele não chorou. Ele a amava profundamente. Mas então ela disse a ele palavras horríveis, que desta vez feriu não só ao corpo dele, mas a alma, a mente, o sentimento. E ele chorou. E quando ficou sozinho, tirou a própria vida manchando com sangue, o recipiente das lágrimas.

Indo embora, a feiticeira encontrou uma das suas irmãs do destino em seu templo, que lendo a mão dela, disse algo que deixou a maga perplexa. Ela poderia ter conseguindo essa lágrima em momentos de felicidade, em uma prova de amor, ou até mesmo no cansaço e no sono. E ela seria feliz para todo o sempre. Mas agora, ela estava destinada a vagar a eternidade, com sua solidão e uma lágrima vermelha encravada no meio de sua testa, para lhe avisar com a clarividência quando seu amado voltaria a terra. E as outras lágrimas caíram por terra, e se tornou o mar, em sinal de amor ao sétimo filho do sétimo filho.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Filhos do sol

Em quanto você jura viver a vida como uma louca,
Em quanto dizem ser muito mais do que coisa pouca,
Eu vejo os prédios caírem com os filhos do sol.
Eu vejo os filhos dos filhos, os filhos do sol.

E meu corpo se arrepia, e minha alma rodopia
Agora sim podemos em fim viver!
Vejo as portas, as grades e me sinto tão mal
Que quase posso vomitar.

Então quando me retiro para meu refúgio numa ilha,
Que volto evoluído, elevado, meu corpo queimado
Tenha certeza que foram os filhos do sol.
Os filhos, filhas e irmãos do sol.

Não mudo tão fácil, sou muito igual.
Não mudo tão fácil, eu sou um filho do sol.
Não diga que eu sou um homem comum.
Eu sou e serei, um pai, um filho, e um irmão
Do sol.